Com o aumento da expectativa de vida da população tem crescido significativamente o risco de doenças degenerativas ligadas ao envelhecimento, incluindo as relacionadas ao sistema nervoso central (SNC). Quando tratamos do envelhecimento do cérebro é importante separarmos o envelhecimento normal do patológico.
No envelhecimento normal podem ocorrer alterações usualmente encontradas nessa faixa etária e não associa-das a doenças especificas. No envelhecimento patológico ocorrem alterações cerebrais associadas a sinais e sintomas relacionados a processos patológicos distintos. O termo demência representa um déficit adquirido e progressivo nas habilidades intelectuais, tais como memória, cognição, linguagem, emoção, etc. Através do avanço da RM, é possível obter cada vez mais informações adicionais que trarão um diagnóstico preciso quanto às diversas causas que levam a demência.
No envelhecimento normal alguns achados são freqüentemente encontrados tais como: discreto grau de redução encefálica global, espaços peri-vasculares alargados (Virchow-Robin), deposição de ferro principalmente no globo pálido, núcleo rubro e pars reticulata da substância negra assim como nos núcleos denteados. Com o avançar da idade essa deposição de ferro pode acometer também o caudado e o putâmen, com a intensidade de sinal se igualando ao pálido. Outro achado comumente encontrado e de significado controverso são os focos de hiperssinal nas seqüências T2 e FLAIR que acometem a substância branca dos hemisférios cerebrais, principalmente nos lobos frontais e parietais. Varias são as causas que levam aos distúrbios cognitivos e a demência. Dentre elas a maior responsável é a doença de Alzheimer (DA), seguida das demências de causa vascular (DV), demência fronto-temporal, demência com corpos de Lewy, e doença de Creutzfeldt-Jakob.
Fig 1 a – paciente jovem, |
Fig 1 b – paciente de 80 |
A DA é responsável por 50 a 70% das demências, e é caracterizada por redução volumétrica encefálica, principalmente acometendo as porções mesiais dos lobos temporais. A RM é uma ferramenta adicional no seu diagnóstico, tendo como principais achados a redução volumétrica dos hipocampos associado a certo grau de atrofia cerebral. Varias técnicas são utilizadas na tentativa de criar critérios para diagnóstico da doença, como por exemplo, volumetria dos hipocampos, a espectroscopia de prótons e mais recentemente o tensor de difusão (DTI).
A espectroscopia de prótons por RM permite a avaliação dos metabólitos presentes no cérebro de maneira não invasiva. Trabalhos com espectroscopia de prótons nos hipocampos e no cíngulo demonstraram redução dos valores de n-acetil-aspartato (relacionado à perda neuronal) e elevação dos valores de mio-inositol (relacionado à proliferação glial). Porem esses achados isoladamente são pouco específicos tendo em vista que outras patologias também cursam com alteração dos níveis desses metabólitos.
Fig 2 a e fig 2 b – paciente de 78 anos com suspeita clínica de DA, exame de espectroscopiacom voxel único posicionado na porção posterior do giro do cíngulo demonstra queda dos valores de Naa com aumento dos níveis de Mi.
Mais recentemente estudos com DTI vêm tentando demonstrar com mensuração de valores de anisotropia fracionada (AF) - relacionada à integridade dos tratos de substância branca - acometimento precoce dessas fibras nos lobos frontais, temporais, parietais e giro do cíngulo, para um diagnóstico mais precoce da doença. Apesar de recentes esses trabalhos apontam para um novo horizonte no auxilio diagnóstico da DA, porém devendo ser avaliados em conjunto com os demais achados de RM.
As demências vasculares (DV) são a segunda maior causa demência e são compostas por um grupo heterogêneo de doenças tais como demência relacionada a múltiplos infartos, doença de pequenos vasos, infartos estratégicos, encefalopatia relacionada a HAS, angiopatia amilóide, doença de Binswanger, CADASIL, entre outras. O curso dessas demências geralmente difere da DA por apresentar-se com queda abrupta das funções cognitivas, progressão em “degraus” dos déficits ou por instalação após um AVC previamente diagnosticado. Apesar disso muitas vezes a diferenciação com a DA é difícil.
A RM pode auxiliar no diagnóstico das DV, por exemplo, como nos casos de infartos estrategicamente localizados (por exemplo giro angular e tálamo), presença de múltiplos infartos , acometimento de mais de 25% da substância branca por microangiopatia e lesões microhemorrágicas (comuns na angiopatia amilóide e na encefalopatia relacionada a HAS).
Nas demais causas de demência a RM também tem papel de grande importância como, por exemplo, na predileção da atrofia dos lobos frontais e temporais na demência fronto-temporal, no aspecto típico de acometimento da substância cinzenta na seqüência de DIFUSÃO na doença de Creutzfeldt-Jakob ou ainda para afastar outras patologias como nos casos da hidrocefalia de pressão normal.
Dr. Marcos Marins
Médico Radiologista - Centro Radiológico Campinas.
Hospital Vera Cruz, Campinas.
Fonte: CRC NEWS – Informativo do Centro Radiológico Campinas – ANO I – Nº 2 – ABRIL/JUNHO 2009